Um
dia para esquecer
A
primeira segunda-feira de maio foi trágica. De uma tacada só, perdemos dois
extraordinários homens ligados às artes do país. O ator e autor Flavio
Migliaccio (85 anos) suicidou-se em seu sítio, no interior fluminense, e o
médico, compositor e escritor Aldir Blanc (73) morreu no Rio de Janeiro, num
hospital da rede pública, vitimado pelo coronavírus.
A
gloriosa trajetória de Migliaccio na televisão é sobejamente conhecida. Por
isso, prefiro enaltecer sua inesquecível participação no filme “Boleiros - Era
uma vez o futebol”, dirigido por Ugo Giorgetti. Nele, Flavio encarna o franzino
atacante Naldinho, em verdade o jogador Luizinho que fez história no Corinthians,
integrando (em 1954) um ataque completado por Cláudio, Baltazar, Rafael e Nonô.
Felizmente, vi esse ataque jogar, num inesquecível empate de 4 a 4 contra o
Noroeste, em Bauru.
“Os
Boleiros” ainda apresenta mais 4 ou 5 curtas histórias, no interior do fictício
Bar do Aurélio”, uma homenagem ao legendário Bar do Elias, situado nas
proximidades do Parque Antarctica. Uma delas fala do apitador Virgílio
‘Pênalti’ Paiva(interpretado pelo excelente Otavio Augusto) que recebe dinheiro
para fazer com que umdos times ganhe. Inventa um pênalti e critica o goleiro
porque ele pegou as cobranças do adversário. Outra é a história de um ex-craque
que coloca à venda seus troféus e medalhas porque está “quebrado”. Uma velada
alusão ao zagueiro Joel Camargo que foi campeão pelo Santos e seleção
brasileira.
Aldir Blanc, por sua vez, entra para a
história da música popular brasileira. Em 1979, junto com João Bosco, compôs “O
bêbado e a equilibrista”, considerado um hino informal sobre o período da
anistia e do declínio da ditadura militar de 1964. Nos versos “Choram Marias e
Clarisses”, ele e Bosco citam as viúvas Maria, mulher do metalúrgico Manuel
Fiel Filho, e Clarisse, esposa do jornalista Vladimir Herzog, mortos nos porões
do DOI/CODI, por fazerem parte da oposição.
A dupla também compôs, entre outras joias
raras, ‘Falso Brilhante’, ‘Dois prá lá, dois prá cá’, ‘O rancho da goiabada’,
‘O mestre sala dos mares’, ‘Ronco da Cuíca’ e ‘Os moinhos’, imortalizadas por
Elis Regina, falecida em 1982.
Professor Valdir Andrêo
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